O fim de semana de Mark Davis
Oi, meu nome é Mark Davis, estou no primeiro colegial e
estou gravando um trabalho para minha professora de sociologia, o trabalho é
sobre como nós agimos perante a sociedade moderna, então, o que há de melhor do
que eu gravar o que acontece comigo 24 horas por dia? Bom, só para começar, eu
devo explicar uma coisa, eu moro com meu irmão mais velho Richard, ele tem 24
anos e se deu bem na vida, seu trabalho, desenhista técnico de uma empresa de
estofados, não é grande coisa, mas é um bom emprego, ele ganha bastante
dinheiro, e logicamente, ele dá uma parte pra mim. Mas não moramos sozinhos,
dividimos um apartamento com mais dois caras, um headbanger pirado chamado Tom,
e faz faculdade de artes visuais, então o apartamento está cheio de pinturas e
esculturas que para mim não fazem sentido algum. Um exemplo? Ele esculpiu uma
mulher nua sem os braços e a cabeça, ainda não entendo porque, mas ele disse
pra mim que a mulher perfeita é a mulher que não tem cabeça para falar demais,
e nem braços para te bater, só precisa de um belo par de seios e... Bom, o resto
você já compreendeu.
Esse foi o começo, da minha tarde após a escola, eu abro a
porta do apartamento do meu irmão, e há um cheiro muito grande de cigarros e
bebida barata, no sofá, largado como se fosse um mendigo fétido, está Tom, ele
está escutando uma musica muito deprimente.
- Tom o que houve?
- Se lembra da Gabriela?
-Sim o que tem ela? Ah, entendi, ela terminou com você
né...?
-Não, dormindo jogada que nem uma salsicha no chão do meu
quarto.
-Salsicha...? Esquece, prefiro não saber o porquê de ela
estar assim. Mas enfim, por que você está todo dark soturno no sofá e cheirando
a vomito e a bebida barata?
-Eu não sei, acho que ela está me traindo.
-E porque você acha isso?
-Bom, é que-
Tom é interrompido e Eric entra pela porta segurando um
x-Burger cheio de bacon. Esse é o outro cara ao qual meu irmão e eu dividimos o
apartamento, nós nunca sabemos o que ele é realmente, ele sempre aparece de
formas diferentes, ontem mesmo ele estava vestido como se fosse o James Bond.
Ele nos encara por uns momentos, dá uma mordida e continua nos encarando, chega
a dar medo por causa de seu gorro preto e cabelos longos e pretos, seus olhos
vazios sempre encarando-nos, e suas roupas punks rasgadas e com bottons de
bandas anarquistas demonstram que ele é um tanto revoltado.
-Querem um pedaço? –Diz Eric.
-Passo –Respondo –O Tom está deprimido, ele acha que a
Gabriela está traindo ele. Você entende dessas coisas?
-Sim, claro que sim. Na faculdade fui traído muitas vezes
por garotas.
-Mas você nunca fez faculdade.
-Não? Nossa, é por isso que estava procurando e não tinha
achado. Mas vou ser o psiquiatra dele hoje, ele tem sorte, não vou cobrar nada.
-Ótimo, então fala com ele, eu tenho que passar a primeira
parte do meu trabalho em vídeo para o computador.
-Legal, sobre o que é? –Pergunta Eric.
-Como agimos perante a sociedade moderna, decidi me filmar e
mostrar como eu interajo com as pessoas e essas coisas.
-Irado, mas acho que você esqueceu-se de uma coisa
importante.
-E o que é?
-Me empresta a câmera aí e você vai ver.
Eu entrego a câmera para Eric e ele a segura e começa a
filmar a sala toda bagunçada, garrafas jogadas ao chão, e encima da mesa de
centro um monte de comida, batata frita, pizza pela metade, e essas coisas.
Eric volta a câmera para seu rosto, e solta um grande sorriso mostrando seus
dentes totalmente brancos e arregalando seus olhos, devo admitir, eu o estava
vendo de longe e ainda em perfil, e mesmo assim aquele sorriso foi macabro
demais e chegou a me dar calafrios.
-Olá mortais que verão este vídeo... Eu sou o príncipe das
trevas. Eu sou-
Antes de ele completar o que ia dizer eu consigo tirar a
câmera da mão dele. Sigo para o meu quarto e fecho a porta, ao menos o meu
quarto estava em perfeitas condições, cama arrumada, meus pôsteres de animes
todos no lugar, minhas figuras de ação estão todas encima a prateleira, e meu
notebook encima da mesinha em que eu sempre passo as minhas noites e minhas
tardes. Sim, você se pergunta agora “Você não sai de casa?”, não eu não saio de
casa, não há nada para fazer fora da minha casa, não, corrigindo, o meu
apartamento, corrigindo mais uma vez, o apartamento do meu irmão. Ainda não
estou me acostumando a morar com ele, é tão estranho, um dia você é um aluno
promissor em uma cidade pequena e industrial, e então, de uma cidade pequena
voltado sempre para o lado industrial, você acaba dentro de um apartamento com
três homens pirados, e ainda assim, em uma cidade pequena voltada para o lado industrial,
a vida é irônica, é como se fosse um grande bolo, você come e come, ele é
delicioso, e então, quando você se vê está trancado dentro do banheiro com dor
de barriga das mais intensas possíveis. Eu me sento na cadeira em frente meu
notebook, coloco o cabo USB da minha câmera e abro sua pasta onde estão os
vídeos, eu os passo para o notebook, eu abro a pasta onde está as fotos, são
dezenas de fotos, todas elas do verão em que passei no interior viajando com
meus pais, a primeira de todas as fotos é a do meu irmão cavalgando em um
cavalo pequeno, logo após isso é uma foto do cavalo correndo atrás dele , e
logo após essa foto ele tropeça nos cadarços do tênis e cai encima das fezes do
cavalo, eu ria muito nesse momento, sua namorada Alice não conseguiu beija-lo o
dia todo, ela sempre dizia que ele estava cheirando a estrume. Continuo passando
as fotos, e logo tem uma foto minha ao lado de um palhaço em um parque de
diversões, eu sempre tive medo de palhaços, eles são assustadores com aquela
maquiagem toda e aquele sorriso pervertido que eles tem, eu estava tão nervoso
com esse palhaço que acabei peidando, e sem perceber, por ironia do destino
querendo me sacanear, Jessica estava atrás de mim amarrando o tênis, não devo
dizer o que aconteceu depois disso, aquilo foi tão constrangedor que corri para
dentro do banheiro químico e fiquei por lá o dia todo. Jessica se quiserem
saber não é aquela garota patricinha ao qual todos os meninos caem encima dela
ficando excitados sempre que ela os encara, ou do tipo de menina que seria o
ídolo sexual de todos. Não, ela é uma menina gentil e doce, meiga... Agora já
está bom, ou eu vou acabar ficando meloso e isso não é bom. Coloco uma musica
do System Of A Down para começar a editar os vídeos, mas logo que começo a
edita-los eu não consigo, Jessica está na minha cabeça, e vai ser difícil de
ela sair. Batem na porta, eu me levanto para ver o que é, eu abro e é meu irmão
segurando uma lagosta azul na mão.
-Olá garotinho bicha, eu vim devorar seu cérebro para enfim
minha raça dominar o mundo! –Diz meu irmão segurando a lagosta no rosto pelas
garras.
-Há, muito hilário Richard, fala logo o que você quer porque
eu estou ocupado.
-Ah sim, é claro que está não é irmãozinho? Você está na
puberdade, o corpo está mudando, pelo está começando a nascer no seu peito, os
hormônios estão em alta, o sangue circula mais no seu pênis e você começa a se
masturbar. –Ele olha para cima com um sorriso orgulhoso relembrando de sua
adolescência –Bons tempos...
-Mas que nojo, eu não estava me masturbando. Fala logo.
-Ah, claro, estava me esquecendo, preciso que vá comigo no
mercado.
-Por que eu? Chame o Tom ou o Eric.
-Eles saíram logo após que a Gabriela saiu, o Tom parece
estar deprimido, ele parecia o Kurt Cobain, só precisa comprar uma espingarda e
atirar na própria cabeça. Bom, vamos logo.
O caminho ao mercado é longo, meu irmão ficou o tempo todo
falando de como o trabalho dele é chato, ele usa uma calça social e tênis de
marca de skatista, sua camisa social branca está sempre pra fora da calça, seu
cabelo curto e arrepiado está até brilhando com o sol devido a quantidade de
gel que ele passou, seu paletó está aberto, a gravata está torta, acho que
dentro da daquele apartamento eu sou o único menos bizarro e desleixado.
Chegando ao mercado pegamos um carrinho, todos nos encaram, eu não gosto disso,
mas não os culpo, um homem de 26 anos com terno todo desarrumado como se
tivesse chegado de uma noite de festa andando pelo mercado com um garoto de 15
anos com uma camisa do lanterna verde, uma calça preta e um tênis converse sem
cadarço, o cabelo também preto todo despenteado, me pergunto se eles acham que
somos mendigos. Eu pego a câmera de que está em meu bolso e começo a filmar eu
e meu irmão no mercado, coloco ela apontada ao meu rosto e começo a dizer o que
estamos fazendo, mas não demora muito e meu irmão para na sessão de
absorventes.
-Cara, porque diabos você parou aqui?
-Porque aqui passa muito mulher gostosa meu irmãozinho, quem
sabe uma delas não passam com uma irmãzinha que está na puberdade e se
masturbando para você enfim afogar o ganso.
-Afogar o ganso? Como assim? –Sinceramente, eu imaginei eu e
uma garota de 15 anos ao meu lado afogando um ganso em um lago, sabe, pegando
sua cabeça e colocando debaixo d’agua e... Bom, você me entendeu.
-Você sabe irmãozinho, afogar o ganso, dar uma molhada no
palhaço, ir até Jesus... Conhecer o paraíso...
-Ainda não te compreendo.
-Puta merda, eu estou querendo dizer sexo, transar, pegar a
garota de jeito e mandar a ver na cama, me entendeu agora?
-Ah, entendi, e porque eu faria isso com uma estranha? Se
fosse para mim transar deveria ser com uma garota que eu amo.
-Meu deus! Garoto, você é gay? Assim você vai ser um virgem
pelo resto da vida, olha lá, uma mulher passando, aprende com o mestre.
Meu irmão se aproxima da pobre mulher inocente, ela está pegando
um absorvente e vendo seu preço, meu irmão logo fica ao lado dela com uma cara
inocente e de cachorro carente.
-Olá bela senhorita, pode me dizer onde fica os cereais,
preciso comprar umas barras energéticas pra correr mais tarde, malhar um pouco,
sabe como é né, sempre querendo manter o corpo em forma.
-Ah, claro, é virando aquele corredor ali –Diz a mulher
apontando para frente.
-Obrigado, mas assim... Me leve até lá, eu sofro de um
transtorno e acabo me perdendo fácil, não é legal.
-Está bem, eu levo, vem. –Então pegando no braço do meu
irmão ela o leva para o tal corredor, ele me olha e então sai
Eu fico esperando-o no corredor, é muito estranho, você um
garoto em um corredor com cores afeminadas com várias pessoas passando e te encarando,
uma menina passa e me encara sorrindo, essa é a minha chance de parecer mais
descolado, o carrinho está a meio metro na minha frente e vou me apoiar eu
acabo caindo no chão e batendo a cabeça, logo acordo com uma voz feminina
dizendo o meu nome. –Mark? Mark...? –Era o que a voz dizia. Abro meus olhos e
vejo pequenos olhos azuis esverdeados me encarando, um cabelo louro com mechas
lilases caindo sobre minha testa, uma pele branca como uma tela de pintura, e
algumas sardas no rosto.
-Oi... Que... Quem é você?
-Você não está me reconhecendo? Sou eu... A Jessica. Da
antiga escola.
-Ah, Jessica, aquela do parque de diversões né?
-É, você... Peidou na minha cara.
-Verdade, sinto muito por isso.
-Não tem problema.
Como assim não tem problema? PORRA! Eu peidei na cara da
menina mais bonita e sexy da escola, e ela aparece assim do nada falando que
não tem problema? Mas que mundo é esse?
-O que está fazendo por essas bandas? –Meu deus, eu pareço
um caipira falando.
-Eu acabei me mudando, minha mãe arrumou um emprego nessa
cidade, ainda é estranho, não conheço ninguém. O que você está fazendo aqui?
-Bom, eu estou caído com a cabeça no seu colo, você
segurando a minha mão... Oh droga, você se referia a cidade né? Perdão.
-Está tudo bem –Responde dando risadas. –Mas Você ainda não
me respondeu.
-Tem razão, perdão. Eu me mudei pra cá a pouco tempo, ganhei
uma bolsa pra estudar de graça em uma escola daqui, peguei logo química, é bem
interessante, de vez em quando alguém brinca com as soluções erradas alguém se queima com algum tipo de ácido. É
bem legal.
Jessica ri mais uma vez. Meu irmão ressurge mais uma vez do
corredor, ele está trazendo algumas barras de cereais na mão e a mulher do seu
lado está marcando alguma coisa em um papel e lhe entregando, ela olha para
Jessica.
-Jessica? O que está fazendo?
-Nada mana. –Então me solta fazendo a minha cabeça bater no
chão de novo.
-Quem é essa? –Pergunta meu irmão.
-Essa é a minha irmã, e quem é esse mocinha? É seu namorado?
-Não esse é o Mark, da minha antiga escola, aquele
inteligente.
-Ata, o nerd que peidou na sua cara no parque de diversões.
-É... Esse mesmo.
Espera, eu entendi isso direito? As pessoas só lembram de
mim por ter peidado na cara da menina? Isso não é algo muito legal, é
constrangedor.
-Bom, vamos, eu já comprei o que tinha que comprar.
Elas saem do corredor me deixando no chão frio sentado como
um pobre coitado, meu irmão me ajuda a levantar e então vamos para o caixa,
passamos todas as coisas que compramos e vamos embora. Meu deus, como o mundo é
pequeno, eu estava pensando na Jessica, e magicamente ela aparece em um mercado
na sessão de absorventes e por ironia eu caio no chão, e acordo nos braços
dela, parece um conto de fadas se for ver bem, ou algum tipo de comédia
romântica, caramba, estou falando como uma menina apaixonada, espera,
apaixonada? Paixão? Eu não compreendo isso, então não sei como é, a única coisa
que eu sei sobre amor e paixão é que as pessoas ficam retardadas, e ilógicas.
Voltando do mercado dentro do carro meu irmão começa a
falar.
-Quem era a garotinha lá no mercado?
-Uma amiga da outra escola, por que?
-Ela é bem gostosa, você vai comer ela?
-Não seja tão grosseiro Richard, ela é uma garota
respeitável.
-É e você parece um gayzinho falando assim, duvido muito que
ela não já brincou com aqueles peitinhos no peruzinho de algum menino aí.
-Por deus Richard, não fale mais assim.
-Ta bom, mas a irmã mais velha dela é muito gostosa, eu vou
comer ela. Ela me passou o número dela, pega aí dentro do porta luvas.
Eu abro o porta luvas e tiro de lá um pedaço de papel, nele
tinha um número de telefone, meu irmão pegou o papel e guardou no bolso do
paletó. Chegando em nosso apartamento não havia ninguém por lá, era estranho
isso, mas não liguei e então fui para o meu quarto editar os vídeos, mas quando
fui pegar a câmera no meu bolso ela não estava lá, procurei por todo o meu quarto,
fui até a cozinha verificar se estava em uma sacola de compras, e nada.
Perguntei se estava com ele, ele disse que não, mas estava muito concentrado no
telefone, perguntei com quem ele estava falando, e ele disse que era com a irmã
de Jessica, Clarisse, segui para o meu quarto e me joguei na cama, eu estava
realmente ferrado sem a câmera, não havia a mínima ideia do que fazer em
relação ao trabalho, bom, tinha a opção de escrever uma redação conforme
passasse os meus dias, e foi o que fiz, peguei uma folha de papel e comecei a
escrever, não poderia escrever no meu notebook pois não havia impressora ou
qualquer tipo de pen drive para passar para ele e então imprimi-lo, cara, como
isso é deprimente. Escrevi quatro folhas e tudo o que saiu foi como os meus
amigos de apartamento são nojentos e ainda assim, engraçados e como se fossem
parte da minha família. Já estava tarde, meu irmão me chamou para jantar, ele
poderia ser um idiota tarado mas sabia fazer uma boa comida, ele fez aulas de
culinária com 12 anos, mas seu objetivo não era aprender a fazer uma boa
comida, ele estava mesmo por lá para poder conseguir pegar algumas garotas. Na
sala estavam a dupla de retardados que eu mais respeitava no mundo, Tom e Eric,
eles estavam comendo e assistindo filme de terror, e a cada cena de morte eles
riam como se estivessem vendo um filme de comédia, no começo achei que eles
estavam enlouquecendo e virando sádicos, mas quando fui ver melhor o filme, era
um filme antigo com umas mortes bem miseráveis, um exemplo: Uma mulher estava
sendo estripada e o assassino tirando seus intestinos, sim, era pra ser uma
cena bárbara e horrível, mas quando você olha percebe que a mulher é um
manequim de loja de roupas e sua barriga aberta está sendo retirada linguiças
de supermercado.
Volto para o meu quarto com o meu prato de comida, refeição
de hoje: uma espécie de macarrão ao óleo e alho acompanhado de pedaços de bacon
e lagosta. Estava realmente magnífico, coloquei alguns animes para ver no meu
notebook, logo desliguei para dormir, não estava com cabeça para esse tipo de
coisa. Deitei-me na cama umas 2:01 da manhã, não tirava Jessica da cabeça, e
isso está me irritando pra caramba, pego os meus fones de ouvido e começo a
escutar algumas musicas, logo adormeço. Acordo já era bem tarde, já passava das
duas horas da tarde, ainda estava com a calça do pijama e uma camisa azul sem
desenho nenhum, meu cabelo estava todo despenteado e eu procuro algo pra comer
e tudo o que consigo achar é só um monte de cereal velho, bom, não faz mal nenhum
come-los certo? Sentei-me no sofá e ligo a TV e assisto alguns documentários
sobre vulcões, é fascinante quando você mora longe deles. Eric aparece ao meu
lado simplesmente do nada, eu me assusto e começo a gritar como uma menininha.
Ele não estava normal, estava comendo cereais e estava vestido como um hippie e
usava óculos rosas na mesma armação de Harry Potter.
-Como que vai brother? Só na paz e amor? –Faz sinal de paz e
amor com os dedos olhando para mim como se fosse um hippie drogado. Espera. Ele
era um hippie, só não sei se ele estava drogado.
-Oi... Eu estou bem... Eu acho...
-Irado... –Responde.
-Eric, sabe onde está o meu irmão e o Tom?
-O Tom está dormindo ainda, ele pintou até tarde, parece que
vai se suicidar, veja os quadros que ele fez.
Eu olho em volta e não vejo nenhum quadro novo.
-Não tem nenhum quadro cara, só os mais antigos dele.
-É por isso mesmo, ele não pintou nenhum.
-E porque disse que ele pintou?
-Eu disse isso?
-Sim, disse.
-Nossa cara, que viaje inexplicável...
Nesse momento eu tinha absoluta certeza de que ele estava...
“doidão”. Ficamos passando o tempo juntos assistindo televisão e eu ouvindo ele
dizer filosofias sobre a vida, mas nada do que ele dizia fazia sentido, na
maioria das vezes ele nunca terminava o que dizia. A porta se abriu e meu irmão
entrou todo suado vestindo uma bermuda leve, e uma camisa regata branco.
-O que foi Richard? Por que está todo suado?
-Tive que voltar correndo pra casa, o meu carro foi roubado.
–Diz Richard.
-Brother, relaxa, quando a nave mãe vier nos buscar não
vamos mais precisar de bens materiais. PORQUE! Todos nós somos obedientes ao
todo poderoso, que dirige a nave mãe divina brother, eu posso até ouvir ela
chegar cara, ioooon, zuiiiiiin, shuuuu.... –Responde Eric.
-Mas que... que droga é essa?
-Não sei, eu acordei assim e ele já estava desse jeito
falando bobagens. –Digo eu.
-Bom, tudo bem, eu vou tomar banho, aquela gostosa do
mercado irmã da peitudinha vai vir aqui pra gente sair.
Meu irmão segue ofegante para o banheiro, mas antes de
chegar até lá ele cai no chão e pede para que eu o leve, eu, como um bom irmão
mais novo o peguei pelas pernas e o levei para o banheiro, o deixei jogado
embaixo do chuveiro e liguei, saí de lá e logo voltei para sala, e dessa vez
quem estava jogado no chão é o Eric. Não liguei muito, muitas pessoas ficariam
preocupadas em ver se ele estava bem, mas ainda podia ouvir seu ronco então
apenas o pulei e me sentei no sofá, coloquei meus pés encima dele e os cruzei
como um cara vagabundo narcótico faria. Devo admitir uma coisa, naquele momento
me senti o cara mais descolado do mundo, tirando a minha calça do pijama do
Batman e minhas pantufas do Hamtaro estava tudo ok, eu era descolado dentro da
minha área, o apartamento, eu era o rei, bom, depois do meu irmão é claro. Meia
hora se passou e eu ainda estava sentado no sofá com as minhas pernas sobre
Eric, a campainha é tocado e eu vou ver quem é, abro a porta e é Clarisse, ela
estava linda, usava um vestido azul escuro, quase preto, usava uma bolsa preta e
seu cabelo estava ondulado, era uma visão magnifica, mas logo aparecendo atrás
dela aparece Jessica. Eu arregalo meus olhos, ela não poderia nem fodendo me
ver assim, eu estava ridículo, parecia... Uma criança, sei lá, mas eu era uma
criança descolada no meu mundinho.
-Oi, seu nome é Mark, né?
Ainda paralítico respondo balançando a cabeça positivamente.
-Bom, seu irmão me chamou pra sair, ele está?
Mais uma vez eu respondo que sim balançando a cabeça.
-Pode chama-lo, pra mim?
Eu saio correndo da frente da porta e então vou para o
banheiro, meu irmão está deitado ainda de baixo do chuveiro roncando, eu o
chuto com força na costela e ele acorda, digo a ele que Clarisse está na porta
esperando-o, ele levanta correndo e se dirige até o quarto e tira sua roupa
toda molhada, eu corro até o meu e me visto um pouco mais decente, pego dentro
do meu guarda roupa uma camisa do Fairy Tail branca, coloco uma calça jeans
azul escura desbotada, e coloco meias listradas pretas e roxas, e coloco um
tênis all star vermelho, penteio o meu cabelo com a mão bem rapidamente. Corro
para a sala e vejo Jessica sozinha encarando Eric no chão dormindo, pergunto
onde estão os nossos irmãos e ela responde que acabaram de sair todos
apressados, eu digo a ela para se sentar no sofá, e ela com dificuldade se
senta manobrando seu caminho até lá com Eric jogado no chão.
-Então... Mark, o este é o seu apartamento?
-Sim. Bom, é na verdade do meu irmão. Mas... O que você está
fazendo aqui a essa hora?
-Se lembra do nosso encontro no mercado?
-Claro que sim, nunca vi repetirem tanto que eu peidei no
seu rosto em um só dia.
-Então... –Responde Jessica envergonhada –Você deixou a sua
câmera encima do caixa, e eu vim lhe entregar ela.
-Obrigado. Mas... Você viu alguma coisa gravada aqui?
-Não. Por que?
-Ata, nada não, nada...
Sinceramente eu fico feliz por ela não ter visto nada da
câmera, porque no dia que eu peguei a câmera da minha mãe, sim, essa câmera é
da minha mãe, eu resolvi testar ela me filmando cantando System Of A Down. Mas
então vocês perguntam: E por que isso seria um problema? E eu lhes respondo: É
por que não seria legal se a garota que você é super a fim te visse cantando
vestido de Pikachu. A porta de Tom se abre, e ele vem até a cozinha totalmente
nu, com algumas manchas de tinta no corpo, ele abre a geladeira e pega uma
garrafa de vodca e depois abre o armário e pega algumas batatas fritas. Ele se
vira e nos encara.
-Vocês querem? São
as ultimas, não me importo de dividir.
-Bom a gente-
-Eu não vou dividir, nada eu comprei, e são todas minhas!
–Diz tom saindo nu, com seus olhos todos arregalados.
-Jessica, vamos sair daqui, acho que você não vai querer ver
isso de novo.
-É... Não, não mesmo.
Nos levantamos do sofá e saímos do apartamento, vamos até
uma praça perto do prédio, ficamos andando por lá e conversando sobre coisas
idiotas, conversamos também como foram nossos anos escolares, ela ficou falando
dos namorados idiotas que ela teve, e perguntou sobre os meus relacionamentos.
Digamos assim que meus relacionamentos não foram muito bons, quem é que iria
gostar de alguém como eu? Eu só consegui beijar uma garota por causa que eu
paguei ela, bom, mais ou menos, ela queria que eu fizesse o trabalho de física
dela, e em troca ela me beijaria, feito isso, ela me beijou e eu me senti o rei
do mundo. Mas no fim voltei a ser como eu era sempre. Andando pelos pequenos
caminhos que tem nessa praça, um homem passa correndo me fazendo cair na grama,
eu o xingo.
-Seu babaca, olha pra onde anda!
O homem volta e me encara.
-O que foi que você disse garoto?
Sem eu ter tempo para responder Jessica intervém.
-Seu babaca, foi isso que ele falou, e você vai fazer o que
agora? Vai bater nele?
-É! É isso que eu vou fazer.
Quando o homem vai me dar um soco, Jessica o acerta com muita
força no nariz quebrando-o, foi um soco daqueles se é que me entendem, eu
consegui até ouvir o nariz do homem quebrar, ele sai correndo falando que não
ia ficar assim, que iria me pegar e me dar uma boa surra, e que era uma
promessa.
-E não volte nunca mais aqui! –Responde Jessica. –Você está
bem Mark?
-Sim, eu estou bem sim, obrigado por me proteger. –Jessica
me ajuda a levantar.
Obrigado por me proteger? Mas que droga, eu estou parecendo
uma menina agora, se um dia eu e ela nos casarmos eu estarei vestido de noiva,
bom, e se ela me pedir em casamento tem que me impressionar, sabe, ser
romântica... Essas coisas. E o casamento tem que ser bem bonito. Meu deus, se
transarmos eu vou acabar sem meu pênis e no lugar estarei com uma vagina.
Continuamos andando e chegamos até uma grande fonte onde ela estava colorida, a
água jorrava para cima como se fosse um gêiser, ela nunca havia visto algo
parecido e então ficou impressionada, mas eu não encarava a fonte, eu encarava
a Jessica, seus olhos admirados pelas luzes da fonte, ela estava perfeita,
espera, ela sempre é perfeita, ela nunca me olhou com ódio ou repugnância, isso
é realmente atraente nas mulheres. Ela se virou para mim e me encarando, meu
coração simplesmente disparou, aquele sorriso, não sei explicar, vou verificar
os meus status atuais, mãos suados, meus lábios provavelmente estão um pouco
mais vermelhos, o meu coração está disparado, e eu sinto uma grande ansiedade
em... Em... Em beija-la. Eu me aproximo dela para beija-la, mas quando meu
lábio vai ficar próximo ao dela, alguém a chama e ela vira seu rosto e dá uma
passo para trás, e acabo beijando o vento. Fico parado por uns instantes
fazendo biquinho ao vento, abro os meus olhos e vejo meu irmão agarrado com a
irmã de Jessica, ela a está chamando para ir embora. Ela se despede de mim,
quando ela se vira eu tenho um ataque histérico olhando para céu perguntando se
deus me odeia, quando ela se vira para me olhar eu paro, e abaixo a cabeça, mas
surpreendentemente ela volta correndo e me beija na boca, é um beijo demorado
sem língua. Ela volta e diz tchau, me deixando sozinho na praça vendo-as irem
embora dentro do carro, meu irmão fica logo depois ao meu lado, ele coloca a
mão em meu ombro enquanto eu ainda fico chocado pelo o ocorrido.
-Ela... Ela realmente me beijou?
-Sim meu irmãozinho, e o que pretende fazer agora?
-Eu não sei... Acha que eu devo chama-la para sair algum dia
desses?
-Claro que sim, mas leve camisinhas, aliás, abaixa mais a
sua camisa e vamos pra casa, o seu Piu-Piu esta levantado e todo mundo pode ver.
Eu pego a minha camisa e tampo ele, mas não tinha nada
levantado.
-Há, hilário Richard, muito hilário.
-Eu sei, agora vamos embora. Sabe meu irmãozinho. –Diz meu
irmão caminhando ao meu lado. –Os bardos vão cantar sobre esse dia, foi épico,
eu transei com a irmã da sua namoradinha, você foi beijado por uma peitudinha,
talvez vai molhar o biscoito semana que vem. Fico imaginando como será essa
canção. Uau, olha só, parece que foi ontem que você era um bebê, e a mamãe
jogou sua frauda suja em mim só porque eu desenhei um pênis no rosto dela...
-Ainda não acredito que você fez isso.
-Eu fiz sim, te mostro as fotos mais tarde.
Nós seguimos para o apartamento, entrando lá Tom estava
pintando Eric que ainda estava deitado no chão murmurando algo como “as flores
de inverno estão brilhantes com a nave mãe que se deita sobre a cascata de
sujeira da sociedade”, outra coisa que ele disse foi “o urso cor de rosa ainda
está andando de monociclo? Nós vamos andar no mundo colorido pelo resto da
eternidade cara”. É realmente muito estranho isso, pois... Tom ainda está
pelado, mas nós simplesmente passamos e não ligamos, Richard para e fica
observando o que Tom desenhou.
-Uma obra prima Tom, você se superou.
-Obrigado Rick!
Quando vou olhar o desenho a única coisa que vejo é um
desenho de Eric caído no chão com uma cauda de gato e um monte de pequenos
alienígenas encima dele. Eu sigo para o meu quarto e pego a câmera,
sinceramente não vou fazer mais vídeo nenhum, vou mesmo é escrever uma redação.
Os dias se passaram, chamei Jessica para sair, meu irmão
começou a namorar Clarisse, eu fui a escola e apresentei alguns vídeos e o pior
de tudo em meio a essa apresentação, o meu irmão me sacaneou muito bem, o verme
infeliz me filmou tendo um orgasmo dentro do banheiro. Mas tudo bem, a redação que entreguei para a professora me
salvou de ter uma nota baixa, Tom descobriu que Gabriela estava traindo ele,
mas não era como ele pensava, na verdade ela só estava viciada em Guerra Nas Estrelas
e Indiana Jones, era uma maneira de ficar mais perto dele já que ele adorava
esses filmes, Eric se descobriu nesse movimento hippie, é de fato a cara dele,
a única coisa que atrapalha é ele ficar chapado de maconha no apartamento.
Vocês se perguntam porque Jessica e eu estamos namorando, bom, eu lhes
respondo, como todos os namoros dela foram quase que totalmente grandes
fracassos, eu era o príncipe encantado dela que sempre esteve lá e ela não
percebia, é o típico de coisa que aconteceria numa comédia romântica, mas não
foi o caso, ela só está namorando comigo porque estava cansada de namorar
otários, ela de fato não me ama, eu acho, mas eu não preciso disso, eu tenho
bonecos de ação do elenco todo do Jornada Nas Estrelas. Bom, acho que aqui que
termina esse trabalho, agradeço por ter paciência.
“Vida longa, e
prospera...”
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